Poniboy Curtis, de The Outsiders (Susan E. Hinton). Os amigos e irmãos de Poniboy Curtis estão envolvidos em disputas de gangues. São adolescentes que brigam e se esfaqueiam. Poniboy, que também faz parte do jogo, embora não cultive o espirito da violência, é integrante dos Greasers (que vivem em pé de guerra com os Socs), mas está mais interessado em ler e escrever a respeito de tudo o que acontece ao seu redor. “The Outsiders”, o pequeno romance narrado por Poniboy, é uma obra de Susan E. Hinton, publicado em 1965 e depois filmado por Francis Ford Coppola em 1983. O filme traz para as telas um drama juvenil que atualizava para os anos 80 os climas dos clássicos The Wild One, filme de 1953, com Marlon Brando brilhando no papel principal e Rebel Without a Cause, de 1955, com o icônico James Dean no papel de Jim Stark, sucesso entre os adolescente da época (era do nascimento do rock e da rebeldia juvenil). Li o livro de Hinton e assisti o filme de Coppola, ali, por volta de 1988. Existem os heróis e os poetas. Os heróis lutam e agem, os poetas escrevem sobre eles. Poniboy, neste sentido, é um poeta. Sempre me identifiquei mais com os poetas do que com os heróis. Mas Poniboy Curtis foi um de meus heróis.
Fabiano, de Vidas Secas (Graciliano Ramos). Graciliano é tão perfeitamente claro e conciso ao narrar a saga de Fabiano que eu só consigo dizer, sem ter que citar os parágrafos para não parecer prolixo (e para que você mesmo pegue seu exemplar e os leia), que talvez o que mais me marque no personagem seja a sua tarefa de ter que cuidar da família, o que deveria ser a definição de sua vocação e, portanto, a sua via humanizadora, mas, por causa da dureza da realidade, faz o filósofo Fabiano oscilar entre achar que é um bicho ou um homem. A narrativa desta meditação do sertanejo-retirante é um dos trechos mais belos de nossa literatura. A saga íntima de Fabiano importa tanto quanto a sua sofrida peregrinação por aquela terra árida e sofrida.
Hans Castorp, de A Montanha Mágica (Thomas Mann). Hans Castorp entre Settembrini e Naphta, silenciosa e pacientemente sentado, observando e absorvendo o debate entre os dois intelectuais, é a imagem perfeita do aluno (ou a imagem do aluno perfeito). Castorp senta e assiste; para e ouve. Aprenderá também, durante a sua estadia no Sanatório Internacional Berghof, com o amor, o sexo, a doença e a morte. Tudo isso ao relacionar-se com aquele pequeno universo de personagens diversos - nos quais estava representado todo mundo europeu - reunidos na Montanha Mágica. Castorp subiu as colinas de Davos como um menininho imberbe e, ao fim do livro, e de tudo o que acontece naquelas maravilhosas mil páginas, transforma-se num homem. A educação de Hans Castorp talvez tenha me mostrado que ser um aluno é tão fascinante quanto ser um mestre.