Um caminho de alegria
Uma espécie de minicrônica com uma reflexão. E os meus destaques culturais de 2023.
Eu deveria ter publicado meus destaques culturais no fim de 2023,mas acabei me enrolando porque queria tecer alguns comentários sobre eles. A verdade é que fiquei pensando em que importância e utilidade as pessoas teriam em saber meu gosto pessoal. No entanto, alguns amigos expressaram feedbacks positivos sobre recomendações anteriores, o que me motivou a publicar mesmo sem os comentários. Além disso, devido à absoluta falta de tempo, percebi que só conseguiria concluí-los por volta de meados de 2024 (exagero) . Espero que apreciem a crônica também.
Hoje, o menino abriu os olhos, e meio dormindo ainda, disse: papai, eu gosto muito de você! Ultimamente, tenho adotado o verbo "gostar" devido a considerações feitas por Pedro Sette-Câmara. Talvez, por conta do desgaste da palavra "amar", "gostar" parece transmitir de forma mais precisa o desejo de proximidade, aceitação e prazer em compartilhar momentos.
É fogo ter que citar Lulu Santos, mas minha mulher certa vez descreveu de modo quase perfeito o sentimento que minha primogênita Clara demonstrava por ela — um “grude” —, citando esta canção:
“Ela demonstrou tanto prazer
De estar em minha companhia
Eu experimentei uma sensação
Que até então não conhecia
De se querer bem”.
É assim que as crianças dizem e agem: eu gosto de você. É simples. Eu quero ficar com você, gosto de ficar ao seu lado, eu quero ficar com você, gosto de ficar ao seu lado, gosto de fazer coisas que te deixam alegre. O amor é assim.
Deus também é assim. Ele gosta de nós. Nós é que não entendemos muito bem que alguém goste de nós. Que alguém queira nos ver alegres, felizes e bem. Em tempos de cristianismo “dolorista” ou masoquista, isso pode soar quase absurdo. Mas é assim. Deus gosta de nós. O cristianismo é um caminho de alegria.
Lembro-me de alguém que achou peculiar uma cena do filme 'A Paixão de Cristo', dirigido por Mel Gibson, na qual Jesus se deitou voluntariamente na cruz para ser crucificado. Um gesto simbólico muito forte. Mas a crucificação não é propriamente um “ato de Cristo”. É um ato dos homens que o colocaram na cruz.
Pensei nisso ao ler um texto de Henri Nouwen. Cristo, durante seu ministério público, agiu ativamente. Ele curou, libertou e fez o bem às pessoas, proporcionando-lhes liberdade, alegria e paz. A vida pública de Jesus é caracterizada pela ação. No entanto, quando chega o momento do Calvário, Cristo para de agir, transitando da ação para a passividade. Ele até mesmo deixa de falar, não respondendo mais às perguntas, permitindo que os homens ajam sobre Ele. A paixão é um ato da humanidade. O sofrimento não é inerente à essência de Deus; é, antes, um 'efeito colateral' da liberdade mal utilizada pelos seres humanos. Por sua vez, Cristo utilizou a cruz para nos proporcionar o bem.
O cristianismo é um caminho de amor e alegria. Não é o sacrifício, mas sim o amor, que encontra eco no coração de Deus. Deus gosta de nós, como expresso pelas palavras de Santo Irineu: 'A glória de Deus é o homem vivo.'"
Destaques culturais 2023
Discos
Cousin, Wilco
Fuse, EBTG
Seven Psalms, Paul Simon
Muito além do fim, Lô Borges
Super Terror, El mató un policía motorizado
Everything is alive, Slowdive
Cat Power Sings Dylan: The 1966 Royal Albert Hall Concert
The National, First Two Pages of Frankenstein
Chrome Dreams, Neil Young
Such Feroucius Beauty, Cowboy Junkies
Músicas
Flowers, Miley Cyrus
Ghosts Again, Depeche Mode
Nothing Left to Lose, Everything but the Girl
Alfie, Slowdive
Pitsburgh, Wilco
Strung out, Johnny, Iggy Pop
Vinte e muitos anos, Bule
Vampire Empire, Big Thief
Medalla de Oro, El mató un policía motorizado
Retina, Lô Borges
Livros
Escândalo, Shusaku Endo
Suzete, Fabien Toulmé
Primeiro, o amor depois o desencanto (e o resto de nossas vidas), Douglas Coupland
Rezas, João Filho
Norwegian Wood, Haruki Murakami
Fé, Esperança e Carnificina, Nick Cave
Stella Maris, Cormac McCarthy
Arte e Fé, Makoto Fujimura
Passeios com Robert Walser, Carl Seelig / Os irmãos Tanner, Robet Walser
Meu anjo da guarda tem medo de escuro, Charles Simic
Internet
Ronca-Ronca (podcast)
Página não encontrada (podcast)
ABFP (podcast)
Medindo os bigodes (podcast)
Alta Fidelidade (canal de YouTube)
Corredor 5 (canal de YouTube)
Som de peso (canal de YouTube)
KEXP (canal de YouTube)
NPR Music (canal de YouTube)
Livrada (canal de YouTube)
Primeiro parágrafo (podcast)
Telinha
Blue Eye Samurai, Amber Noizumi, Michael Green (Netflix)
(não lembro de mais nada relevante)
Telão
L'Avventtura, Michelangelo Antonionni
Eu posso ouvir o oceano, Tomomi Mochizuki
Vidas ao Vento, Hayao Miyazaki
O Sacrifício, Andrei Tarkowski
One More Time With Feeling, Andrew Dominik
This Much I Know to Be True, Andrew Dominik
Aftersun, Charlotte Wells
Close, Lukas Dhont
Desconstruindo Harry, Woody Allen
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É uma honra figurar na sua lista de livros, meu amigo. Deus abençoe sempre vc e os seus.
Fez bem em relembrar o Corredor 5. Clemente dá uma aula sobre entrevistar. Veja falando nisso, a excelente entrevista com Oswaldo Montenegro e de Sullivan com participação especial de Fagner.